sexta-feira, fevereiro 24, 2012


O MAIOR PRESENTE DE NATAL


Hoje é sábado de manhã e ainda estou de ressaca, apesar de não ter bebido, acordei cedo (coisa rara num sábado) e fiquei lembrando dos acontecimentos de sexta-feira a noite, e tenho certeza de que meu combalido coração aumentou significativamente suas batidas, além de ter sujado de sangue a camiseta que ganhei do Marcos Vinicius, numa faca nova (tb.presente dele) que vai me forçar a comprar uma picanha de pelo menos 1,800 kg, pra inaugurá-la, de tão bonita que é, e depois conto pra vocês se ela é tão boa quanto bonita.

E viajei, igual ao Bob (lembra dele, aquele do desenho animado) e passou pela minha cabeça ano de 2008 inteiro, quase que cada momento dele, suas lutas, dificuldades, derrotas, empates e vitórias conquistadas a cada dia, e aquele tradicional balanço de fim de ano, aconteceu, e pra vocês, só pra vocês, aqui vai.

Começo ainda em 2007, dezembro, amigo secreto aqui em casa, havia pedido pro meu amigo uma sandália franciscana (dois números maior) pois estava tão inchado, que o número normal não servia mais, nesta época, estava no auge dos efeitos negativos de um crise renal que já durava pelo menos 2 ou 3 anos, havia ganho algo em torno de 25 quilos, minha respiração era curta e a locomoção totalmente nula, seguia as instruções dos médicos e religiosamente tomava as medicações, entretanto, a cada dia a situação piorava.

Passou o Natal, o ano novo, e Janeiro caminhava no mesmo marasmo, quando lá pelo dia 25 tive uma crise de Neuropatia, perdi os movimentos e a princípio pensou-se em um AVC, (devo confessar que nesta hora tremi na base), mas graças a Deus, o diagnóstico foi outro, AVC ficou totalmente descartado, mas a respiração não normalizava, a pressão subiu a extratosfera, enfim, a coisa realmente ficou feia, muito feia, a ponto de chamar o pessoal e dar instruções de como proceder(no meu velório quero uma banda de Rock gospel, fazendo muita, mas muita festa, afinal estarei com o Senhor) em varias situações, pois realmente acreditei que o Senhor Jesus ia me levar naqueles dias, ou como digo brincando algumas vezes, ia comer grama pela raiz, fazer uma dieta hiper radical..

Internado, via os dias passarem e sem perspectivas de melhoras, pois eu via meu quadro agravar, pedia aos médicos que inciasse a diálise (neste momento atingi o peso de 107 quilos), mas os exames insistiam em mostrar o contrário, e eu sentindo a cada momento que meu cordão de prata ia se romper, foram assim pelo menos 5 dias, mas pareceram uma eternidade, alíás, cada dia uma eternidade, até que um dia, passou pelo hospital um anjo, daqueles que a Bíblia descreve, (...muitos sem saber hospedam anjos....) e examinando meu quadro, solicitou que inciasse a diálise imediatamente, apesar de o imediatamente só começar 5 dias depois, fui autorizado a iniciar o procedimento, mas só poderia sair do hospital, depois de conseguir onde continuar a dialisar de forma continua, mais uma vez, a mão de Deus se fez presente, pois quando médico me disse isso, pedi a ele que solicitasse vaga na clinica onde meu filho caçula trabalha, pois a mesma pertence ao Hospital do Rim, não sabia dos trâmites pra se conseguir vaga, mas sabia que Deus move o coração do Rei e a gerente da clínica ao saber da situação, pediu e conseguiu a vaga, e assim, poucos dias depois da primeira diálise (uns 10 dias mais ou menos) tive alta numa segunda-feira e iniciei o processo na clínica, onde permaneço até hoje.
Mas não pense que a coisa termina aí, pouco tempo depois, internei-me no hospital Beneficencia Portuguesa a fim de pesquisa pra transplante de Rim, era pra ser uma internação de uma semana, somente pra exames preliminares, quando no dia da alta, com o resultado do último exame nas mãos, as médicas responsáveis pelo meu caso, entraram no quarto e me deram a notícia que eu teria de fazer uma ponte de safena, pois a artéria estava com entupimento de mais de 80% e isso colocaria em risco um transplante, era assim, ou operava o coração ou não havia mais a possibilidade de transplante do Rim.
Adivinha, isso..... fiz a operação. E aquela semana transformou-se em mais de um mês de internação, mas de coração novo (ou pelo menos recauchutado) voltei aquilo que seria a minha rotina a partir de então, três vezes por semana na máquina de diálise, tome luta, correria, adaptação, mas acima de tudo algo que quase havia sumido (TOME VIDA, ESPERANÇA, RESTAURAÇÃO DAQUILO QUE SE APRESENTAVA COMO MORTE).

Mas o ano ainda estava na metade. Fiz alguns cálculos e vi que em 180 dias do ano, havia passado quase 150 internados, mas vi também que eram passado e pela frente havia uma vida inteira a ser vivida, pude voltara trabalhar, embora com bastante dificuldade e num ritmo muito diferente de outrora, mas já estava me sentindo produtivo de novo, devagar as coisas estavam entrando nos eixos, até que no dia 13 ou 14 de novembro, quem eu encontro no meu orkut (um picolé pra quem adivinhar....). Muito bem você acertou: a MARGARETH. Quem mais, perguntando se eu era eu mesmo, respondi que sim, eu era eu mesmo, nem mais nem menos, o KIKI de 1972, e ela me convidou pra ir na casa de ME no dia 16 de Novembro pra encontrar aquele pessoal da época do ginásio. Cara, devo dizer que quase pirei, 36 anos depois encontrar aquele povo todo, foi muito louco. O Chiquinho, o Licio, o Ivan, as Solange(Vanucci e Rissatti) a Margareth, a Xexéu e por aí vai..... Ainda bem que eu havia reformado o coração, caso contrário, não agüentava mesmo, ver aquelas carinhas todas, hoje homens e mulheres de sucesso e com famílias formadas foi a chave de ouro pra um ano que começou no vale da sombra da morte, e sem contar que quase sentei no colo do papai Noel (mas aquele saco vermelho não deixou....ainda bem) posso dizer agora, 2008 foi o primeiro ano do resto da minha vida e vocês, foram O MAIOR PRESENTE DE NATAL QUE JÁ EXISTIU.
MUITO OBRIGADO E ATÉ O PRÓXIMO ENCONTRO..........
O VÉIO DO RIO
* 1927 + 2012

Estava bem velhinho mas era briguento com ele só. Brigou pela vida até o último instante, mesmo quando a morte batia à sua porta ele resistiu contra tudo aquilo que vinha contra e não se entregou, apesar de, em muitos momentos, ter uma vontade de desistir e descer do bonde da vida. Era mais marrento que o Romário. Aliás, se dizia Corinthiano mas futebolisticamente, ainda que escondido, era Flamenguista.
Um lutador, órfão desde 11 anos de idade, um cara que tinha tudo para ser mais um trombadinha da vida, fumando crack e cheirando cola pelas esquinas da vida, mas já nesse tempo Deus se fazia presente em sua vida e o conduziu a lares e pessoas que o apoiaram e o ajudaram a formar um caráter inabalável. Um dia, com um pouco mais de 11 anos, pegou um ônibus lá nos cafundós de Minas Gerais e o destino era de Nada a Lugar nenhum, e ele parou bem no meio. Já era noite avançada e ele pulou uma cerca, na beira da estrada e achou um escombro de uma construção e se ajeitou para dormir. Provavelmente, teria uma hipotermia, já que as madrugadas naquela região eram geladas e seu corpo franzino não suportaria o frio, mas ao acordar ele estava coberto por duas vacas, uma de cada lado, totalmente aquecido e se você me disser que não foi a mão de Deus eu vou brigar com você, porque o natural seria que as vacas estivessem deitadas em cima dele e não ao seu lado. Daí ele levantou-se, foi caminhando e encontrou uma família que, simplesmente, o acolheu, deu vestimentas, um trabalho e o ajudou a formar a sua personalidade.
Um dia voltou a Poços de Caldas. Por lá ficou. Era uma época áurea pois a cidade era um centro turístico e nesse tempo ainda existiam cassinos. Foi trabalhar com um farmacêutico e depois foi parar em um hotel. Trabalhou muito, o dinheiro corria solto e nesse período ele só andava com terno de linho. Era enjoado, morava numa pensão, com um quarto só para ele. O tempo transcorreu, o jogo foi proibido e ele voltou aquilo que tinha aprendido com seu pai: cortar pedras. Com o trabalho da marreta cresceu, fortaleceu-se, trabalhou muito e foi parar no Exército, mas, como disse, marrento como era, deixou o Exército e foi parar em Campestre.
Achou uma baixinha, apaixonou-se, casaram-se e tiveram 5 filhos. A primeira, Dagmar, não sobreviveu. Os outros 4 estamos aí: Archimedes, Alvino, Alex e Anderson. O protótipo de marginal, com a marreta na mão e uma esposa do lado, rodou meio Brasil. Só ficou fora o Amazonas e o Mato Grosso. Que eu me lembro, até meus 25 anos ele já havia feito 27 mudanças, mas aqui em São Paulo foi carregador em transportadora, puxador de carrinho no Mercadão, ajudante geral numa metalúrgica, entrou num hotel no centro da cidade e ficou 30 anos, de onde com um esforço imenso e com muita força da velhinha, comprou um terreno 5m x 30m e construiu uma casinha.
Foi ser Zelador numa igreja Presbiteriana onde aposentou-se, mas quando saiu do hotel, apesar dos 30 anos e de ter construído sua casa, literalmente, saiu com uma mão na frente e outra atrás, mesmo tendo jornada diária de 14 a 16 horas. O hotel em que ele trabalhou foi vendido por 6 milhões de dólares e o patrão ficou com toda a multa do Fundo de Garantia, mas o marrento foi em frente. Foi para Minas Gerais.
Um dia ficou doente, a gente não sabia o que era e quando descobriu tinha uma ameba tão grande instalada na medula que só dá para comparar com um casal de solitária (rsrs) no estômago. Mas, brigou e a ameba foi retirada. Ficou diabético, retornou para São Paulo e aqui viveu, apesar da doença anos maravilhosos. Só que não viveu muito a vida dele. Viveu a vida dos netos: Raphael, William, Vinicius, Alan, Lucas, Livia, Gabriel, Isabelle e Bárbara, e por questão de dias não presenciou o bisneto, Caio, que chegará até dia 27 de janeiro. Adotou 4 filhas, que entraram na sua vida, para tomar conta de seus filhos e lhe presentear com os netos. Mas, antes de viver para esses netos, ele vivia para os filhos e filhas. Cada dia, cada pensamento, cada ação era direcionada para eles e a D. Vera, que quando ficava dodói, ele ficava doente por osmose. Uma fase difícil foi quando iniciou a hemodiálise.
Foram 3 anos terríveis, as forças físicas foram esvaindo-se, mas a coragem de enfrentar a vida não. Nesse meio tempo encontrou-se com Jesus e realizou o maior sonho da velhinha, que era ter o companheiro partilhando a mesma fé. Batizou-se, participou da 1ª Ceia do Senhor aos 84 anos de idade, quando suas forças realmente já estavam praticamente o abandonando.
Foi para o hospital num determinado dia e quando todos imaginavam o falecimento eminente, ainda brigou durante 8 dias. E no 7º dia a mamãe disse assim: “Eu vi uma luz no fim do túnel”. E agora eu posso dizer que essa luz era os anjos vindo busca-lo para leva-lo ao seio de Abraão. Partiu. Deixa esposa, 4 filhos, 9 netos e 1 bisneto, dois irmãos Deirce e Londa, que tiveram a felicidade de encontrar parceiros que ajudaram a completar suas vidas: Oscar e Sandra, um monte de sobrinhos, que eu não vou conseguir enumera-los (me perdoem) e um imenso vazio, pois além de tudo, foi pai exemplar, esposo dedicado, avô amoroso, tio carinhoso e irmão, que mesmo à distância, viveu até o fim a vida de seus irmãos.
Este é o véio do rio: meu “paipai”. A gente vai ficar com saudades mas a certeza de que, quando partirmos ou formos arrebatados, vamos estar juntos no Céu, louvando a Deus e agradecendo por esse período que Ele permitiu que você, papai, tomasse conta de nós. Para minha família, só um aviso: agora eu, Curinho, sou o “capi de tutti el capi." "Hasta la vista, baby."